quinta-feira, 18 de novembro de 2010

escrito X

razão

Lavo-me no vento a cada manhã, uivo em rodopio pensamentos verticais ociosos desta vontade carnívora de ser sem pensar. Tenho a razão nas veias, essa rectidão lógica que se espreguiça no corpo e que me turva o coração: mandíbulas da mente que desejam por vontades mecânicas, em sistemas fabris, poluentes da vista, poluentes em mim. Maquinismo.

Ó vento, se tudo isto não é distracção.

Leva-me vento à tua essência solta das correias e cadeados, liberta, pura por seres sem a vontade dos outros, apenas: vento. Leva-me, leva-me, carrega-me no teu colo ao mundo dos naturalismos, onde se pode ser sem querer, sem pensar. Lava-me, lava-me dos mecanismos. Lava-me, lava-me, e leva-me e deixa-me só a alma.



Tenho me sentido, e só sinto
A incerteza de um qualquer sentimento meu.
Quando me posto à janela da alma, e olho
Miragens do tempo, que não cessa,
Demarcar o compasso caótico, alienado,
Da minha desarrumação interior, choro.
Tenho me sentido e sinto-me só.
Tenho-me em noite negra sem luar,
Choro. Choro em constrangimento da incerteza,
Contracção de tudo o que vai em mim,
Expansão inevitável da dor,
Ludibriar da mente, nunca ausente:

Mão de ferro que bate na mesa
Aquilo que é da razão, sem alusão,
Sem sentimento, só equação de mim,
Geometrias da dor.

Choro o oriente ausente, meu
Olhar de frente sem ver com intuição, pessoas
De um cinzento, gente sem sentimento,
Mirar de justificações, lamentações
Mecanismos formatados, sem Oriente, sem
Intuir da alma, onde à janela me posto
E me encontro, cinzento:
Pessoa que caminha sem ver. Doente:

Mão de ferro que bate na mesa
Aquilo que é da razão, sem alusão,
Sem sentimento, só equação de ser,
Geometrias da dor.

Choro uma tempestade, cá dentro
Onde existo sem cor de alguém,
Solução aquosa da aflição, do desalento
Onde me afogo lentamente, silenciosamente
Ao ritmo voraz dos gritos de quem ou quê
Me habita e me invade e me devora
Faculdades do amanhecer – manifestação do renascer
Livre da organização, o primeiro momento,
O primeiro antes de qualquer coisa, antes
Do entender.

Cerra-se o punho na mesa, grave
Sentimento obliterado que se afigura, agora
Matemático. Choro o padecer do meu ser em
Oriente.



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