sábado, 20 de novembro de 2010

escrito XII

rota da dor
[e quem nunca naufragou?]

I

Tempestades salgadas
Nas ondulações da lágrima. Os trovões,
Soares irados do pensamento,
Rebentações do coração em precipitação. A chuva,
Condensação do sentimento, fluido etéreo. Ciclones,
Depressão das palavras, expiral da dor,
Rodopios incessantes da alma.
Descargas eléctricas no corpo.
Sentença final do sorriso,
Desinência do olhar no horizonte,
Carregado, negro
Em constante turvação do olhar salgado,
Inconstante na tempestade.

Som continuado do farol,
Luz artificial, sempre artificial, bailante,
Dançarina tonta que noticia
Os recifes laminados. Coração,
Navegador sem bússola
Carregado nos braços do vento, embalado
Ao colo do mar salgado, perdido,
Capitão sem tripulantes, só
Laceração sentimental, sina da tempestade.

Choros bravios, correntes em remoinho,
Alma sem leme,
Palavras ancoradas,
Rezas sem destino, presas,
No fundo do mar.

Naufrágio.

II

Dor gritada na caravela dos sentidos
Em naufrágio, em coração partido
Nos recifes da realidade:
Lâminas do sonho.

Espuma salgada na rebentação da lágrima.
Corpo inerte ensanguentado,
Corpo à deriva,
Corpo em mar salgado.

Dor sem norte,
Consciente afogado,
Delírios no quase-morte
Do coração que sofre, coração perfurado, coração
De quem não é amado, ouvido,
Lembrado, sonhado,
Querido, chamado,
Sentido, e tudo é,
Dor.

Ao longe a ilha.

III

Água negra, do negro de mim,
Sentimentos de maré forte, tempestuosa,
Dor náufraga, tempestuosa.
E o corpo enrolado na maré,
E o corpo levado na maré,
E o corpo, só corpo, longe de mim,
Longe de mim,
Longe...
Na ilha

Em mim

Em ilha de ser o que não sou,
Capitão de braços fortes, capitão de
Leme na mão, voz de trovão,
Forte, senhor dos sete mares,
Sem coração, pirata,
Ladrão, almas na mão,
Mas não...

Olho-me e sou, só
Em ilha de mim, só
Dor.

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