segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

escrito XXVIII

quero-te
[olhar para dentro em voz alta: digo-te do devaneio. existe uma tendência especial no silêncio individual - o interior do que está circunscrito na forma - para a incerteza das coisas. é assim o interior - quem nós somos realmente - o avesso de quem não somos - por fora. Aí, no âmago, não existem limites ou medidas. a confusão, portanto, é semente adubada em nós, que germina aquando da percepção da individualidade, no avesso da nossa forma exterior. por isso somos tanto por dentro. por isso o silêncio trás facas na mão. por isso a realidade dói nas leis que a compreendem, que nos prendem . um não poder de ser todo, para fora. e fica o silêncio das palavras que não se trocam. das histórias que não se lêem. Digo-te da evasão.]

A noite abraça-o e torna-o só, no negro de quem se deita na cama do desejo: a doença que o aflige por dentro, que o abre. Recorda os olhares, morre. Recorda o sorriso, morre. Recorda o som da voz, morre. E a recordação é o que os aproxima, e a recordação é o que o mata. o tempo vincado na pele. Chora. A razão é que o sufoca. Morre um pouquinho mais. Ele sabe. Ele sabe. Ele sempre soube: o medo de sentir, e sofre. O amor é uma doença degenerativa, quando desejado. o olhar que o absorve e não lhe permite desviar, pestanejar: cada segundo conta para trazer para casa a ilusão nos olhos.

[Desejar quem não se pode ter: a fórmula perfeita para a infelicidade: o ardor no cérebro, nas noites de solidão]


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