Alinham-se os passos de alguém, na sala - descobrem. Tropeçam olhares nas vozes, que morrem, no silêncio de um canto. Bradam-se palavras, no centro, debaixo das grandes luzes, no aperto da fala. Nas mesas para dois, o licor e o cigarro, de alguém que pensa sozinho. À janela, escreve o escritor, palavras romanceadas, frustrações mudas por não se ver fora de si mesmo. O pianista transpira uma pausa, uma renda em atraso, não pode parar. As duas velhinhas da rua vinte e quatro, ouvem-no, recordam o tempo dos maridos, na guerra - a perda que as consome. O homem rico das indústrias do carvão, fita as crianças, negras de fumo, a brincar lá fora. Não pensa, não quer pensar. A prostituta, arruma as coisas da noite na carteira, também não quer pensar. Pede um café. O empregado de mesa, Olívio, acena que sim. Um simples sim, ensaiado pela fadiga da repetição.
Ao som do piano, balanceiam-se vidas, silêncios impermeáveis que se resguardam do enxofre lá de fora - a realidade que os absorve. A tarde termina, e eles sabem, é preciso despertar - o café vai fechar.
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