segunda-feira, 22 de novembro de 2010

escrito XIV

impossibilidade
[O desejo e o silêncio do desejo podem ser fatais: um organismo vivo que se vai alimentado aos poucos e poucos, por dentro: diagnóstico do paciente que vê as coisas na razão dos outros…]

Ele apaixonou-se. Ainda não sabe, senão uma sensação na barriga quando cruza o olhar, quando se prende no olhar, quando se vê no olhar e se prende uma outra vez no olhar e deseja: e são tantas as coisas que se dizem num olhar, quando se prendem. Um vulto negro: a razão, e não bate à porta. Não tem rosto. A porta aberta: entra no quarto e bafeja um silêncio sufocante e quente que o agarra, e o abre, e lhe rouba tudo o que não lhe obedece: a razão é ladra de desejos. O corpo dele aberto. Chora. O silêncio que o invade e lhe fecha a laceração. O silêncio alojado no corpo dele. Sente-se vazio.
Não existe um “nós”, nunca poderá existir. A existência parte de um princípio de criação: a razão: nada foi criado, apenas, ilusão. Ele deseja.

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