Hoje é tarde. Abro a janela do quarto: análogo à vontade de me abrir ao mundo. Não me conheço fora de mim: abro-me para dentro. Exteriorizo-me para dentro. Sempre para dentro. Não existo por fora, para fora. Dói, na intensidade da forma. A janela aberta. A tarde que cai sobre as minhas costas, que se estende na arcada do corpo, na pele. Estendemo-nos. Somos: um. Sinto-a. A tarde dentro de mim. O imediato das sensações que expira, que eu inspiro. Um. A tarde que se faz dentro de mim, no quotidiano da paisagem: os prédios, as vozes, as sirenes, o ruído áspero do asfalto, o mar: na melancolia da luz que termina, dentro de mim, quando inspiro: a tarde. A melancolia das coisas que terminam. E é tarde, na tarde. E é tão tarde para nós. A tarde tem-me dentro dela. E somos as coisas simples. E não pensamos nos simbolismos das coisas. Respiramos. E temo-nos dentro de cada um. E não perguntamos coisas, não. Respiramo-nos. Ardemos no calor do sol que se põem. Somos um. E é tarde na tarde que se faz noite. E sou tanto por dentro e tão pouco sou no final. Amanhã morri. Entrentanto, vou morrendo em ti.
devolve-me a vontade. devolve-me à vontade.
[...O menino, por fim, tombou cansado | O seu boneco aí jaz esfarelado... José Régio]
devolve-me a vontade. devolve-me à vontade.
[...O menino, por fim, tombou cansado | O seu boneco aí jaz esfarelado... José Régio]
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