domingo, 28 de novembro de 2010

escrito XX

devaneios
[Se por algum motivo a pele se rasgar, fujo-me. Escoo-me.]


Love, let me sleep tonight on your couch

É tão fácil esconder tudo. Sou vazio por dentro. Arranjar um espacinho e atirar tudo o que não queremos mostrar. Sou vazio por fora. Não me tenho fora de mim. Tenho-me dentro, não me tendo realmente, porque escondo. E é tão fácil ser aquilo que não somos, que se torna um vício: Prisão. Iludo-me.

Não é fácil. É custoso. Difícil. Penoso. Doloroso. Espinhoso. Molesto à realidade do mundo: aquela que me envolve e me diz, em vozes sibilantes: não o olhes com o coração, é profano. Tremo por pensar-te, assim, tão de perto. Profano, dizem-me. É espinhoso. Não é fácil. É tudo tão impossível. Não existe esperança para isto. Pois não? A lucidez é carrasco. Os ensaios são venenos, lentos. Se ao menos tu, se, ou então se. Se, é ilusão para estas coisas. Quero-te, aqui, bem junto de mim. É veneno. É profano, sibilam. Não é fácil. O teu olhar que me agarra. O teu sorriso. A tua voz. Um desequilíbrio meu. Certamente. Mas sinto. E não há mal nisso. Não o olhes com o coração, é profano. Não é fácil.

And I couldn't awake from the nightmare that sucked me in and pulled me under I love you, but i'm afraid to love you

Fim. Não posso continuar. Este silêncio que me rasga por dentro, quando te olho, no teu olhar: quando me olhas: eu dentro do teu silêncio. É um deserto imenso, esse, antes do amor. Eu dentro do teu olhar, verde. O meu olhar que abraça o teu, e se dilui no teu, e se abre no teu, e se perde no teu. Um deserto. O teu silêncio que me abraça, na indiferença.

O silêncio dói. O teu olhar no meu: dói: os nossos olhares: o silêncio. E é tão pouco, tudo isto. Não posso continuar. A aridez do solo, quando sonho, da linguagem do teu corpo, quando te falo. Não posso continuar, amor. Sinto o cheiro trágico de tudo isto.

A ilusão abraça quem se deixa ficar no cru do dia de olhos fechados; os sonhos: predadores. E somos presa fácil. Sophia lunar ardeu. Ardi. Ardemos. Não olhem para mim, porque eu sou negra, porque o sol olhou para mim. As profundezas tenebrosas cobriram-me o rosto e a terra está corrompida e maculada nas minhas obras, e as trevas abateram-se sobre ela, assim como eu estou atolada no lodo dos abismos e a minha substância não foi aberta. Ilusão. Cinzas. O fogo é a realidade que me queima.

Vivo na total deformação do homem que um dia aspirei não ser.

Escondo.



2 comentários:

  1. E é tão fácil ser aquilo que não somos, que se torna um vício: Prisão. Iludo-me.
    :) Cabe a cada um de nós lutar contra a corrente e para isso só os mais fortes resistem...senao não somos mais do que máquinas, robots..,

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